Robson T. Fernandes
Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a
justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor. E
repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram
contendas. Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim
deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com
mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o
arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à
sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por
ele para cumprirem a sua vontade.
2 Tm 2:22-26
Nós vivemos numa sociedade
extremamente sexualizada. Tudo gira em torno do sexo, sensualidade e as
diversas tendências da carne. A nossa sociedade é treinada para ser erotizada
diariamente, na escola, pelas revistas, jornais, TV, internet etc.
Essa doutrinação termina moldando
a nossa forma de ver as coisas, inclusive influenciando a maneira como nós
lemos a Sagrada Escritura, e isso ocorre exatamente com o texto bíblico em
questão (2Tm 2:22-26). Quando lemos “Foge, outrossim, das paixões da mocidade”
imaginamos logo que as paixões da mocidade se referem ao sexo. Mas não! Pelo
menos não nesse texto.
Se lermos o texto por completo
logo perceberemos que as paixões citadas aqui são as questões insensatas e as
contendas. Isso nos leva a entender a emoção que existe por traz das ações. Então,
aqui, as paixões da mocidade são as ações impensadas que tomamos, movidos por
um sentimento arrebatador que rouba nossa capacidade de raciocinar, agindo com incoerência.
Aqui eu confesso publicamente que
esse texto me machuca, ao mesmo tempo que me direciona corretamente. Me machuca
porque por diversas vezes fui duro desnecessariamente, e quando deveria ter
demonstrado maturidade fui infantil, quando deveria ter demonstrado Graça
mostrei ira, quando deveria ter tido paciência fui grosso e quando deveria ter
compreendido agi como um insensato. Dói ver com clareza que quando tive
oportunidades de imitar a Cristo simplesmente fui carnal, imaturo. Quando
deveria ter agido com espiritualidade apenas deixei fluir a minha natureza
humana desastrosa. Não fiz o que o apóstolo orientou: “despojai-vos também de
tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da
vossa boca” (Cl 3:8).
É sobre isso que esse texto fala.
Ele fala de um adulto que age como se fosse um jovem, um homem ou mulher que
age como se fosse uma criança. A ordem bíblica é para fugirmos das paixões da
mocidade porque o moço, o jovem, age por impulso, pelas emoções. Um adulto
maduro deve fugir do ímpeto da juventude imatura que age inconsequentemente.
O jovem imaturo, mesmo em sua boa
vontade e disposição em acertar, termina abraçando com unhas e dentes questões
loucas e absurdas e se envolvendo em contendas com muita facilidade. Nesse caso
específico, isso é típico de jovens que têm o seu coração inflamado pelo ardor
de uma causa, uma ideologia, que o leva a agir pela pura emoção irracional.
Mais cedo ou mais tarde as
contendas surgirão naturalmente. Isso é inevitável. Porém, o homem maduro sabe
que a resposta branda desvia o furor (Pv 15:1). Então, em meio a contenda nós
temos a real condição de observar quem de fato é maduro.
Mais ainda, a maturidade não está
relacionada com a idade, necessariamente. Existem jovens mais maduros que
certos adultos, assim como há idosos infantis, imaturos. Basta lembrar do caso
de Jó e seus três amigos, quando a palavra de maturidade só foi trazida pelo
quarto amigo, o mais jovem de todos, Eliú (Jó 32:1-4). Ou, de forma contrária,
do caso do jovem profeta Daniel (Dn 1:8) ou do jovem José, no Egito (Gn 39:6-9).
Há, ainda, velhos sábios e maduros, como o caso de Gamaliel (At 5:34-40, 22:1-3)
ou do apóstolo João (At 18:24-28; 1 Co 3:4-6). Enfim, necessariamente a
maturidade nem sempre vem com a idade. Na verdade, o temor ao Senhor é o
princípio da sabedoria (Pv 9:10).
O fato, e isto é um fato mesmo, é
que há muitos jovens arrogantes que em nome de uma suposta piedade ou espiritualidade,
um suposto temor a Deus ou até mesmo diante do desejo de fazer o que acham ser
certo terminam por desprezar os conselhos bíblicos, como por exemplo:
1. “Não
repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a
irmãos” (1Tm 5:1);
2. “Diante
das cãs te levantarás, e honrarás a presença do ancião, e temerás o teu Deus.
Eu sou o SENHOR” (Lv 19:32);
3. “honra
a teu pai e a tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19:19);
4. “O
que repreende o escarnecedor traz afronta sobre si; e o que censura o perverso
a si mesmo se injuria” (Pv 9:7);
5. “Examinai-vos
a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não
reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2
Co 13:5);
6. “Não
sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal” (Pv
3:7)
Tenho acompanhado com pesar, com
profunda tristeza no coração, jovens arminianos discutindo com jovens
calvinistas e não sei qual dos dois têm sido mais arrogante. Jovens
desigrejados, que desejam agradar a Cristo, mas que ao mesmo tempo tratam
anciãos respeitados com profunda ironia, deboche e arrogância. Jovens que
começaram a caminhar na Teologia agora mas que se consideram exímios
tradutores, professores notáveis e detentores das verdades mais profundas. Tratam
aqueles que divergem de suas opiniões de tal forma como nem Jesus fez com os
fariseus.
Me dói profundamente ver pessoas
que poderiam combater o pecado, refutar heresias e combater hereges da forma
certa, da forma bíblica, mas que o fazem com um “rei na barriga”. Me dói
profundamente ver que eu mesmo também já fiz isso, para minha própria vergonha.
Então, só me resta orar e esperar que esses jovens um dia cheguem a ter a mesma
vergonha pelo que estão fazendo, assim como eu mesmo tenho pelo que já fiz.
Só me resta dizer o que apóstolo
disse. Dizer pra mim mesmo e depois para os demais: “Foge, outrossim, das
paixões da mocidade”.
Que o SENHOR nos ajude seguir com
sinceridade a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro,
invocam o Senhor. Que o SENHOR nos ajude a repelir as questões insensatas e
absurdas que só produzem contendas desnecessárias. Que o SENHOR nos ajude a
entrar em uma contenda apenas quando for absolutamente essencial, mas que não
vivamos de contenda em contenda, mas de fé em fé, de Graça e Graça. Que o
SENHOR nos molde e sejamos treinados para instruir corretamente, com paciência,
e, quando necessário, que disciplinemos os que se opõem à verdade com mansidão,
com domínio próprio. Que o SENHOR livre os arrogantes e soberbos para que conheçam
plenamente a verdade, que retornem à sensatez e sejam libertos dos laços do
diabo, para que finalmente cumpram a vontade do SENHOR com um santo temor, para
a glória de Deus e edificação dos irmãos.