Uma breve análise de 1ª João 2:18
Robson T. Fernandes
“Filhinhos,
já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora,
muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora” (1 Jo 2:18)
O anticristo (ὁ ἀντίχριστος)
O termo “anti”
(ἀντί) é uma preposição genitiva no grego
que possui o significado de “oposto”, “no lugar de”. Então, anticristo é
qualquer pessoa que não apenas seja contra Jesus Cristo, mas que deseje ocupar
o lugar que por direito só pertence a Ele.
A função do
artigo definido no grego (ὁ) é destacar, assinalar, um objeto na oração. Ainda, tem a função de
ressaltar o termo nessa oração. Neste caso em particular, no grego, devemos lembrar
que quando o substantivo é nominativo com o artigo o sujeito é definido e
certo, pois o nominativo identifica o sujeito. Portanto, este anticristo é um
sujeito definido e não meramente uma referência a “sujeitos” ou a qualquer um
ou “sistema”. Mais adiante, no mesmo versículo, são citados os “muitos anticristos” (ἀντίχριστοι πολλοὶ).
Dessa forma,
João declara que “agora muitos se têm feito anticristos”, pois muitos eram identificados
como anticristos, a exemplo de Cerinto, Nero, César, Domiciano etc. Nesse
sentido, Policarpo (bispo cristão de Esmirna do século II) alertou aos crentes
de Filipo que qualquer pessoa que pregasse uma falsa doutrina seria um tipo de anticristo
(Polycap's Letter to the Philippians, paragraph 7). Ainda este é o caso de tantos outros
personagens na história, como Adolf Hitler, Joseph Stalin, dentre tantos outros.
Então, muitos anticristos já haviam e ainda existem, já que durante toda a história
muitos anticristos têm surgido. Contudo, em algum momento no espaço de tempo chamado
de “última hora” (últimos dias) não seria qualquer anticristo a surgir, mas “o
anticristo”.
A última hora (ἐσχάτη ὥρα – a hora escatológica) se refere a um período de tempo que já
estava sendo vivido nos dias de João (inaugurado em Cristo), o que seria um
sinônimo de últimos dias. Contudo, apesar de já existirem muitos anticistos em
seus dias, aquele que é chamado de “o anticristo” ainda não havia chegado em
sua Era, pois ele “vem” (ἔρχεται / está vindo).
É importante lembrar que eschate
ora (ἐσχάτη ὥρα), de acordo com o Léxico do Novo Testamento Grego (p.372),
significa:
é a última hora, 1 Jo 2.18; todas se
referem aos últimos tempos do, os tempos desde a vinda de Cristo, em que a
dispensação judaica chegou a um fim, e o poder deste mundo é em parte quebrado,
embora ele só haverá de ser totalmente destruído em seu segundo advento
Ainda,
segundo Wilfrid Haubeck e Heinrich Von Siebenthal (p.1298) eschate ora (ἐσχάτη
ὥρα) é definido da seguinte forma: os últimos tempos (isto é, a nova era
mundial que irrompeu com a primeira vinda de Jesus ou a última fase dela).
Portanto,
João coloca “o anticristo” dentro do tempo chamado de “última hora” (últimos
dias), mas este anticristo não surge em seus dias. Ainda, João morreu após o
apóstolo Paulo, logo, a “última hora” (na linguagem de João) e “últimos dias”
(na linguagem de Paulo) não são encerrados em sua era, especialmente porque “o anticristo”
surgiria nesse tempo, nessa hora escatológica (ἐσχάτη ὥρα).
Portanto, temos
aqui mais uma evidência de que os últimos dias não se resumem a época de Paulo e
nem de João.
A revelação do
anticristo só ocorrerá no fim dos tempos, no final dos últimos dias. Dessa forma,
o termo “anticristo” acompanhado do artigo definido tem a função de destacar um
personagem em especial, e que, nesse caso, o próprio apóstolo João declara que
em seus dias ainda não estava presente, mas apenas alguns anticristos. Por
isso, o anticristo, no sentido escatológico, não poderia ser jamais o imperador
romano ou um sistema, por exemplo. Ele, o imperador romano, poderia ser um
anticristo qualquer, mas não “o anticristo”. Por isso, a hora escatológica (última
hora / últimos dias) não se encerram nos dias de João.
Por isso,
concordo com o teólogo reformado Barry Gritters:
Embora haja diferença
de opinião entre os estudantes Reformados da Escritura com respeito a isto, não
é difícil ver o porquê muitos crêem que o Anticristo será um homem.
Uma realidade que se
opõe a Jesus, mas que também alega ser o Cristo, o ungido de Deus, deve ser um
homem assim como Cristo foi um homem, um homem em quem eles coloquem sua
confiança, um homem para quem as pessoas olhem em busca de libertação das suas
misérias. Como algo pode alegar ser Jesus, o homem, e não ser ele mesmo um
homem? Suportando esta lógica, 2Tessalonicenses 2 parece deixar isto claro. O
Anticristo é “o homem da iniqüidade” e “o filho da perdição” (v. 3); ele se
apresenta “como se fosse o próprio Deus” (v. 4); ele é “o iníquo” (v. 8).
O Anticristo será um
indivíduo definido, um ser humano particular. Um indivíduo de habilidade
incrível e poder extraordinário se levantará, se opondo a Jesus Cristo e
alegando ser o Cristo.
É significante que o
Anticristo será um homem. O Anticristo não será alguma criatura estranha,
irreconhecível para você e para mim, algum alienígena, um homem de Marte ou de
outro sistema solar. O Anticristo não será um estranho à humanidade. De fato,
ele será o desenvolvimento final e pleno do homem, da raça humana. Você o
conhecerá muito bem, pois sua natureza será a natureza dele. O homem sempre alegou
e sempre alegará igualdade e identidade com Deus (testemunhe os delírios
insanos de Shirley MacLaine e outros de nossos dias). Estas alegações deste
homem serão acreditáveis; ele será um de nós.
Assim sendo, “o
anticristo” será uma pessoa, e esta pessoa ainda não se manifestou. Ela só se
manifestará no final do “fim dos dias”, “últimos dias”, sabendo que estes
últimos dias compreendem um período de tempo muito mais longo que a época das
vidas de Paulo, Timóteo e João. Os últimos dias compreendem o período desde
Cristo até a Vinda do Senhor.