sexta-feira, 15 de abril de 2016

AS PAIXÕES DA MOCIDADE




Robson T. Fernandes

Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor. E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram contendas. Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.
2 Tm 2:22-26

Nós vivemos numa sociedade extremamente sexualizada. Tudo gira em torno do sexo, sensualidade e as diversas tendências da carne. A nossa sociedade é treinada para ser erotizada diariamente, na escola, pelas revistas, jornais, TV, internet etc.

Essa doutrinação termina moldando a nossa forma de ver as coisas, inclusive influenciando a maneira como nós lemos a Sagrada Escritura, e isso ocorre exatamente com o texto bíblico em questão (2Tm 2:22-26). Quando lemos “Foge, outrossim, das paixões da mocidade” imaginamos logo que as paixões da mocidade se referem ao sexo. Mas não! Pelo menos não nesse texto.

Se lermos o texto por completo logo perceberemos que as paixões citadas aqui são as questões insensatas e as contendas. Isso nos leva a entender a emoção que existe por traz das ações. Então, aqui, as paixões da mocidade são as ações impensadas que tomamos, movidos por um sentimento arrebatador que rouba nossa capacidade de raciocinar, agindo com incoerência.

Aqui eu confesso publicamente que esse texto me machuca, ao mesmo tempo que me direciona corretamente. Me machuca porque por diversas vezes fui duro desnecessariamente, e quando deveria ter demonstrado maturidade fui infantil, quando deveria ter demonstrado Graça mostrei ira, quando deveria ter tido paciência fui grosso e quando deveria ter compreendido agi como um insensato. Dói ver com clareza que quando tive oportunidades de imitar a Cristo simplesmente fui carnal, imaturo. Quando deveria ter agido com espiritualidade apenas deixei fluir a minha natureza humana desastrosa. Não fiz o que o apóstolo orientou: “despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca” (Cl 3:8).

É sobre isso que esse texto fala. Ele fala de um adulto que age como se fosse um jovem, um homem ou mulher que age como se fosse uma criança. A ordem bíblica é para fugirmos das paixões da mocidade porque o moço, o jovem, age por impulso, pelas emoções. Um adulto maduro deve fugir do ímpeto da juventude imatura que age inconsequentemente.

O jovem imaturo, mesmo em sua boa vontade e disposição em acertar, termina abraçando com unhas e dentes questões loucas e absurdas e se envolvendo em contendas com muita facilidade. Nesse caso específico, isso é típico de jovens que têm o seu coração inflamado pelo ardor de uma causa, uma ideologia, que o leva a agir pela pura emoção irracional.

Mais cedo ou mais tarde as contendas surgirão naturalmente. Isso é inevitável. Porém, o homem maduro sabe que a resposta branda desvia o furor (Pv 15:1). Então, em meio a contenda nós temos a real condição de observar quem de fato é maduro.

Mais ainda, a maturidade não está relacionada com a idade, necessariamente. Existem jovens mais maduros que certos adultos, assim como há idosos infantis, imaturos. Basta lembrar do caso de Jó e seus três amigos, quando a palavra de maturidade só foi trazida pelo quarto amigo, o mais jovem de todos, Eliú (Jó 32:1-4). Ou, de forma contrária, do caso do jovem profeta Daniel (Dn 1:8) ou do jovem José, no Egito (Gn 39:6-9). Há, ainda, velhos sábios e maduros, como o caso de Gamaliel (At 5:34-40, 22:1-3) ou do apóstolo João (At 18:24-28; 1 Co 3:4-6). Enfim, necessariamente a maturidade nem sempre vem com a idade. Na verdade, o temor ao Senhor é o princípio da sabedoria (Pv 9:10).

O fato, e isto é um fato mesmo, é que há muitos jovens arrogantes que em nome de uma suposta piedade ou espiritualidade, um suposto temor a Deus ou até mesmo diante do desejo de fazer o que acham ser certo terminam por desprezar os conselhos bíblicos, como por exemplo:

1.      “Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos” (1Tm 5:1);
2.      “Diante das cãs te levantarás, e honrarás a presença do ancião, e temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR” (Lv 19:32);
3.      “honra a teu pai e a tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19:19);
4.      “O que repreende o escarnecedor traz afronta sobre si; e o que censura o perverso a si mesmo se injuria” (Pv 9:7);
5.      “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2 Co 13:5);
6.      “Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal” (Pv 3:7)

Tenho acompanhado com pesar, com profunda tristeza no coração, jovens arminianos discutindo com jovens calvinistas e não sei qual dos dois têm sido mais arrogante. Jovens desigrejados, que desejam agradar a Cristo, mas que ao mesmo tempo tratam anciãos respeitados com profunda ironia, deboche e arrogância. Jovens que começaram a caminhar na Teologia agora mas que se consideram exímios tradutores, professores notáveis e detentores das verdades mais profundas. Tratam aqueles que divergem de suas opiniões de tal forma como nem Jesus fez com os fariseus.

Me dói profundamente ver pessoas que poderiam combater o pecado, refutar heresias e combater hereges da forma certa, da forma bíblica, mas que o fazem com um “rei na barriga”. Me dói profundamente ver que eu mesmo também já fiz isso, para minha própria vergonha. Então, só me resta orar e esperar que esses jovens um dia cheguem a ter a mesma vergonha pelo que estão fazendo, assim como eu mesmo tenho pelo que já fiz.

Só me resta dizer o que apóstolo disse. Dizer pra mim mesmo e depois para os demais: “Foge, outrossim, das paixões da mocidade”.

Que o SENHOR nos ajude seguir com sinceridade a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor. Que o SENHOR nos ajude a repelir as questões insensatas e absurdas que só produzem contendas desnecessárias. Que o SENHOR nos ajude a entrar em uma contenda apenas quando for absolutamente essencial, mas que não vivamos de contenda em contenda, mas de fé em fé, de Graça e Graça. Que o SENHOR nos molde e sejamos treinados para instruir corretamente, com paciência, e, quando necessário, que disciplinemos os que se opõem à verdade com mansidão, com domínio próprio. Que o SENHOR livre os arrogantes e soberbos para que conheçam plenamente a verdade, que retornem à sensatez e sejam libertos dos laços do diabo, para que finalmente cumpram a vontade do SENHOR com um santo temor, para a glória de Deus e edificação dos irmãos.