quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A INTEGRIDADE E A PUREZA DA IGREJA - PARTE 03



Uma reflexão sobre a necessidade de discipular e promover saúde bíblica na igreja, a partir da análise do livro Nove Marcas de uma Igreja Saudável

Robson T. Fernandes

Estamos estudando o livro Nove Marcas de Uma Igreja Saudável, de Mark Dever, e elaborando um discipulado para líderes, tendo por base esse livro. Paralelo a isso, temos utilizado vários livros auxiliares e de apoio, como: Mantendo a Igreja Pura, de Augustus Nicodemus; Pregação Expositiva, de Hernandes Dias Lopes; 10 Acusações Contra a Igreja Moderna, de Paul Washer; O que é o Evangelho, de Greg Gilbert; A Base da Unidade Cristã, de D. M. Lloyd-Jones entre outros.


O nosso objetivo, portanto, é promover – antes de um crescimento – uma qualidade de vida cristã favorável e necessária para que líderes saudáveis sejam instrumentos de produção de saúde na igreja e para a igreja.

Com isso, entendemos que um organismo saudável irá crescer naturalmente, e com saúde. Por essa razão, é importante a preocupação com discipulado, treinamento e execução a partir da utilização de material biblicamente sadio.

Nessa mesma direção Mark Dever nos aponta Nove Marcas, Características ou Pontos que identificam uma igreja saudável, ou que promovem saúde para a igreja.



O Evangelho

A mensagem do Evangelho tem sido distorcida desde que o Evangelho foi enviado ao homem. Já na época de Paulo ele adverte a que não passemos para “outro evangelho” (2Co 11:4; Gl 1;6,8,9). Com isso, é necessário entender que não é suficiente apenas pregar o evangelho, mas pregar com fidelidade um tipo de evangelho bem específico, o Evangelho de Cristo, e não qualquer evangelho.

Sabemos que o termo Evangelho significa “boas novas”, e o ser humano adora boas notícias, mas essa notícia em particular diz respeito ao estado do homem diante de Deus e ao favor imerecido que o homem recebe da parte do Senhor. Dessa maneira, não podemos mudar ou substituir a mensagem do Evangelho. Não temos esse direito. A mensagem do evangelho sendo modificada deixa de ser evangelho e passa a ser qualquer outra coisa. Na verdade, essa sempre foi a estratégia do inimigo de nossas almas: mudar a mensagem de Deus. O diabo fez isso no Éden com Eva e tentou fazer a mesma coisa com Jesus no deserto, durante o período de tentação.

            Por isso, especificamente o Evangelho de Cristo mostra a natureza caída do homem e a abundância do amor de Deus salvando pecadores ao derramar a Sua Graça.

Mark Dever diz o seguinte:
A Bíblia nos ensina que em nossos primeiros pais, Adão e Eva, todos nós fomos seduzidos a desobedecer a Deus. Portanto, não somos justos nem estamos em um bom relacionamento com Deus. Na verdade, de acordo com Jesus, nosso pecado é tão sério que precisamos de uma vida nova (Jo 3); e, de acordo com Paulo, precisamos ser criados de novo (1Co 15), porque estamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2). “Delitos” é outra palavra que significa “pecado”, descrevendo-o no sentido de transpor um limite.[1]
            Outro problema enfrentado é a psicologização dos púlpitos. Para os homens “sem uma noção teo-referente do Criador, da criatura e da criação, restam somente ídolos de substituição. Daí a ênfase tão grande ao tema “Deus versus ídolos” na Escritura”[2]. Dessa forma, a ausência de uma pregação expositiva gerará a necessidade da adoção de outro meio ou técnica para lhe substituir. Nesse caso, a psicologia.

            Mas o evangelho não é psicologia.
[...] pastores que procuram a relevância da mensagem para a audiência sem considerar a importância da Palavra, tornam-se medíocres, posto que “descem ao povo” para alcançar a média cultural. Na tentativa de proferir mensagens “pop”, acabam sendo superados pela audiência. Neste mundo “virtual”, homens, mulheres, adultos, jovens e crianças vêm às igrejas permeados de “conhecimentos” filosóficos e psicológicos – mais do que seus pregadores.[3]
            A ferramenta do pregador não é a psicologia, e sim a teologia.

            O Evangelho tem sido substituído por uma mensagem psicológica que visa identificar os desejos do ser humano, e não as suas reais necessidades espirituais, para lhes satisfazer os desejos, e não para lhes santificar. Por isso, pregadores que substituem o Evangelho de Cristo por mensagens cabalísticas, positivistas e triunfalistas têm feito tanto sucesso, simplesmente porque estão dando ao povo aquilo que o povo deseja receber. Dessa forma, o povo não é tão inocente como se pensa, como também não é tão vítima desses falsos pregadores. Por isso, Paul Washer afirmou que os “falsos mestres são o juízo de Deus para as pessoas que não querem Deus, que em nome da religião planejam conseguir tudo que seus corações carnais desejam”.

            Tais pregadores são carnais assim como o povo que os segue.

       Então, a mensagem do falso evangelho “vivifica” a carne e “mortifica” o espírito, quando – opostamente – a mensagem do verdadeiro Evangelho mortifica a carne e vivifica o espírito.
Muitas pessoas estão nos bancos da igreja para apreciar a estética do culto e, às vezes, do sermão (mais ou menos por trinta minutos), ou para entregar a vida a uma narrativa de entusiasmo ou de sucesso. Para elas, o passado não é fixo, mas poderá ser mudado por perspectivas criadas à luz do presente. O profeta é um historiador com poderes para recriar o passado e criar o futuro. Sua linguagem é compreendida porque suas perspectivas, seus termos e suas imagens se adequam à mentalidade moderna. Por quê? Porque os púlpitos já compraram a idéia do horário nobre, da linguagem “religiosa” secular, usada nos filmes, nas novelas e nas propagandas. O ensino bíblico foi substituído pela educação nas escolas públicas e particulares sem a crítica necessária da luz da Palavra de Deus.[4]
            Nessa mesma direção, Mark Dever faz a seguinte declaração:
Algumas pessoas parecem imaginar que o cristianismo é uma sessão de terapia religiosa, na qual nos assentamos e procuramos ajudar uns aos outros a nos sentirmos melhor a respeito de nós mesmos. Os bancos dos divãs, o pregador faz perguntas, e o texto a ser exposto é o próprio ego do ouvinte. Mas, depois de havermos sondado as profundezas de nossa alma, por que ainda continuamos a nos sentir vazios? Ou sujos? Existe algo a respeito de nós e de nossa vida que está incompleta ou mesmo errado?[5]
            O falso evangelho não preenche a alma, mas apenas os ouvidos e os desejos gananciosos de seus ouvintes.

            Mas, então, o que é o verdadeiro evangelho?

John Stott define o Evangelho da seguinte forma:
O evangelho é Cristo crucificado, sua obra consumada na cruz. E pregar o evangelho é apresentar Cristo publicamente como crucificado. O evangelho não é, antes de mais nada, as boas novas de um nenê na manjedoura, de um jovem numa banca de carpinteiro, de um pregador nos campos da Galiléia, ou mesmo de uma sepultura vazia. O evangelho trata de Cristo na cruz. O evangelho só é pregado quando Cristo é “publicamente exposto na sua cruz”.[6]
            Por último, uma das mais belas definições do Evangelho de Cristo, em minha opinião, foi dada através da canção do Pr. Paulo Cezar, do Grupo Logos. Ali, o compositor fala com espanto sobre a mudança que produziu um novo evangelho nos últimos tempos, e o real significado do Evangelho de Jesus Cristo:

Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração
Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser ...

Mas o verdadeiro evangelho exalta a Deus
Ele é tão claro como a água que eu bebi
E não se negocia sua essência e poder
Se camuflado a excelência perderá!

O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.

O evangelho mostra o homem morto em seu pecar
Sem condições de levantar-se por si só ...
A menos que, Jesus que é justo, o arranque de onde está
E o justifique, e o apresente ao Pai.

Mostra ainda a justiça de um Deus
Que é bem maior que qualquer força ou ficção
Que não seria injusto se me deixasse perecer
Mas soberano em graça me escolheu

É por isso que não posso me esquecer
Sendo seu servo, não Lhe digo o que fazer
Determinando ou marcando hora para acontecer
O que Sua vontade mostrará.



[1] Idem.
[2] GOMES, Wadislau Martins. Psicologização do Púlpito e Relevância na Pregação. Revista Fides Reformata X, Nº 1 (2005): 11-29.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] DEVER, Mark. Nove Marcas de uma Igreja Saudável. São José dos Campos: Fiel, 2007. p.
[6] STOTT, John. A Mensagem de Gálatas. São Paulo: ABU, 2007. p. 69






CONTINUA...



__________________________

SOBRE O AUTOR:

Robson Tavares Fernandes é casado com Maria José Fernandes e pai de Isabela. É Pastor auxiliar na Igreja Cristã Nova Vida em Campina Grande, onde lidera a Secretaria de Ensino. Graduado em Teologia pelo STEC e pelo IBRMEC e Mestrando em Hermenêutica e Teologia do Novo Testamento pelo Betel Brasileiro. Tem se dedicado desde 1998 ao ensino e pesquisa na área de Hermenêutica, Apologética, História, Teologia e Fé e Ciência. É escritor e co-autor do livro “Apostasia, Nova Ordem Mundial e Governança Global” (em co-autoria com Augustus Nicodemus Lopes, Russell Shedd, Norman Geisler, Uziel Santana e Norma Braga). Professor de Teologia e Apologética e um dos fundadores da VINACC, tendo feito parte da primeira diretoria e posteriormente servido como pesquisador e consultor teológico.