Robson T. Fernandes
Existe poder em nossa língua? Algumas pessoas insistem em
afirmar que sim. Porém, antes de prosseguirmos, precisamos fazer alguns
esclarecimentos necessários, para evitarmos confusões e mal entendidos sobre o
assunto que estamos tratando.
Em primeiro lugar, é preciso distinguir a Palavra de Deus
(Bíblia Sagrada) e as palavras pronunciadas por um ser humano. Nenhum cristão
em sã consciência ousaria dizer que a Palavra de Deus (Bíblia) não tem poder.
Claro que tem, pois esta é a Palavra de Deus (Bíblia). A nossa crítica, então,
não diz respeito a Palavra de Deus (Bíblia), mas ao ensino de que as palavras
pronunciadas por um ser humano têm poder. A nossa negação se refere às palavras
na boca do homem, e não a Palavra de Deus (Sagrada Escritura, Bíblia Sagrada).
Em segundo lugar, entendemos que palavras ditas de forma
errada podem magoar, ferir ou machucar alguém. Com isso, uma pessoa pode ser
afetada emocionalmente com uma “palavra” dita na hora errada e de forma errada.
Por exemplo, uma criança pode ser traumatizada emocionalmente pelos seus pais
devido a xingamentos e desvalorizações. Esta criança pode crescer traumatizada
por causa de uma criação errada. Mas, isso não diz respeito ao mundo
espiritual, como pretendem os seguidores do Movimento da Fé. Uma coisa é ser
ferido emocionalmente, outra coisa – totalmente diferente – é afirmar que as
palavras de um filho de Deus podem trazer a existência coisas que não existem e
produzir efeitos miraculosos.
Portanto, que fique bastante claro, mais uma vez, que em
nenhum momento estamos afirmando que a Palavra de Deus não tem poder e nem que
pessoas, incluindo crianças, não são afetadas emocionalmente por palavras duras
e desmedidas.
EXPLICANDO PROVÉRBIOS 18:21
A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza
come do seu fruto.
Provérbios 18:21
Esse é um dos textos mais utilizados para se defender o
suposto poder das palavras. Como podemos entender essa passagem bíblica?
Especialmente quando o Movimento da Fé afirma que esse texto nos dá respaldo
para acreditarmos que há poder em nossas palavras e que podemos mover o mundo
espiritual com as nossas palavras de confissão positiva?
Para entender o versículo 21 devemos ler desde o versículo
19. Vejamos:
O irmão
ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são ferrolho de um
castelo. Do fruto da boca o coração se farta, do que produzem os lábios se
satisfaz. A morte e a vida então no poder da língua; o que bem a utiliza come
do seu fruto.
Provérbios 18:19-21
Normalmente os adeptos da confissão positiva utilizam
apenas a metade do versículo 21 para defender que palavras têm poder no mundo
espiritual, e esquecem até do resto do versículo, que diz assim: "o que
bem a utiliza come do seu fruto".
Surgem, então, duas perguntas: 1) O que bem a utiliza?
Utiliza o quê?; 2) Que fruto?
1) O que utiliza bem a língua! Mas o que significa isso?
Exatamente o que diz o versículo 19, que é ter cuidado com o que fala para não
ofender ou magoar o irmão. Um irmão magoado tem o seu coração como as portas de
um castelo fechado com ferrolhos (versículo 19).
O versículo 20 nos diz que a pessoa que têm boas palavras é
agradável e no final das contas "a boca fala do que está cheio o
coração" (Lc 6:45b). Por isso, Romanos 10:15 diz que os pés de quem
anuncia as boas novas são formosos. Pessoas que têm boas palavras são
agradáveis. Lembrando, por último, que esta “boa palavra” não é
uma palavra que faça a pessoa se sentir bem, mas uma palavra que faça bem. A diferença
entre uma coisa e outra é que algumas pessoas se sentem bem com aquilo que faz
mal. Mas, as vezes aquilo que nos faz bem nem sempre nos é agradável
inicialmente, a exemplo de um remédio amargo.
Agora vem a pergunta do versículo 21: Que fruto?
2) A pessoa que não cuida da maneira de falar magoará os
irmãos e colherá irmãos que terão, contra si mesmo, um coração fechado como as
portas de um castelo trancado com ferrolhos.
Portanto, o texto de Provérbios, em seu contexto completo,
não está falando que as palavras têm poder no mundo espiritual, como muitos
afirmam. O texto está dizendo, simplesmente, que pessoas que falam
sem pensar podem fazer com que seus irmãos tenham o coração fechado contra si.
Ainda, precisamos lembrar do que está escrito em Tiago 3,
sobre a língua, e que se encaixa no mesmo contexto. Tiago afirma
que a língua carrega veneno mortífero (Tg 3:8). Por quê? Porque ela incendeia
uma floresta e põe a perder todo o corpo. Ela magoa e agride o próximo.
É nesse contexto que os escritores bíblicos falam do poder
da língua. É o poder de alegrar um coração ou gerar uma grande confusão,
magoando pessoas queridas e ferindo quem não precisa ser ferido.
Dependendo do que nós dizemos, podemos gerar uma confusão
tão grande que isso pode levar uma pessoa contra a outra, podendo até gerar uma
morte. Ou, podemos apaziguar uma situação, evitando uma tragédia. Por isso a
vida e a morte estão no poder da língua.
Isso é a sabedoria colocada em prática.
Em nenhum dos textos a Bíblia nos diz que podemos mover o
mundo espiritual com nossas palavras, ou que podemos gerar algo no mundo
espiritual com nossas palavras. Quem move o mundo espiritual é o poder de Deus.
CONSELHO: Querido leitor, lembre
quando for esclarecer alguém sobre esse assunto, de lhe pedir para que atente
para a passagem bíblica por completo, e não apenas para a metade de um
versículo. Ainda, peça que o mesmo faça associações com outras partes da Bíblia
para não isolar um texto, pois a Bíblia explica a própria Bíblia.
CONCLUSÃO
Quais os benefícios que o Movimento da Fé tem trazido para
o povo de Deus? John Ankerberg e John Weldon dizem o seguinte[1]:
Considere o
Movimento da Fé. Ele trouxe unidade e maturidade - ou divisão e imaturidade -
para o corpo de Cristo? Ele trouxe divisão e imaturidade. Por quê? Porque os
pregadores da Fé não ensinam doutrina. Pois, se a ensinassem, nem sequer
existiria um "Movimento da Fé (ANKERBERG; WELDON, 1993, p.24)
Isso pode ser facilmente constatado pelos “frutos” deixados
pelo curso Rhema de Kenneth Hagin, que já dividiu igrejas, fragmentou irmãos e,
como é de costume, se dedicam incansavelmente a assediar os membros de outras
igrejas e denominações para que façam o seu curso, Rhema, quebrando princípios
éticos, morais e, acima de tudo, doutrinários da Sagrada Escritura, que
alicerçam seus ensinos na “teologia” do Movimento da Fé.
Por outro lado, concordamos plenamente com Hank Hanegraaff
que afirma que apesar deste movimento ser sectário, é também composto por
algumas pessoas sinceras, amáveis e que de fato nasceram de novo. Algumas
dessas pessoas buscam viver uma vida piedosa em Cristo. Contudo, é difícil
viver uma vida bíblica quando os seus alicerces doutrinários não são bíblicos.
Ainda que o Movimento da Fé seja inegavelmente sectário - e
que grupos particulares dentro do movimento sejam nitidamente seitas - deve-se
salientar que existem muitos crentes sinceros e nascidos de novo dentro desse
movimento. Não posso exagerar ao enfatizar esse ponto crucial. Esses crentes,
em sua maior parte, mostram-se totalmente alheios à teologia sectária do
movimento.
Tenho encontrado pessoalmente diversas pessoas queridas que
se enquadram nessa categoria. Não questiono sua fé nem sua devoção a Cristo.
Eles integram aquele segmento do Movimento da Fé que, por alguma razão, não
compreenderam nem internalizaram os ensinamentos heréticos apresentados pela
liderança de seus respectivos grupos. Em muitas instâncias, são novos
convertidos ao cristianismo que ainda não se firmaram bem na fé. Mas nem sempre
é este o caso. (HANEGRAAFF, 1996, p.43)[2]
Por último, a problemática do Movimento da Fé é apresentada
por Hank Hanegraaff[3] da
seguinte forma:
O verdadeiro Cristo e a verdadeira fé bíblica estão sendo
rapidamente substituídos por alternativas doentias, oferecidas por um grupo de
mestres que pertencem ao denominado “Movimento da Fé”.
Este câncer vem sendo alimentado por uma constante dieta
que poderia ser chamada de “cristianismo das refeições rápidas” - belas na
aparência, mas fracas em substância. Os provedores dessa dieta cancerígena têm
utilizado o poder das ondas de rádio e televisão, bem como uma pletora de
livros e fitas criteriosa e agradavelmente embalados, a fim de atrair suas
presas para o jantar. E os desavisados têm sido chamados a amar não o Mestre,
mas aquele que está na mesa do Mestre. (HANEGRAAFF, 1996, p.14)[4]
Ainda, John Ankerberg e John Weldon dizem o seguinte:
O Movimento
da "Fé" acredita que a mente e a língua humanas contêm uma habilidade
ou poder sobrenatural. Quando alguém fala, expressando a sua fé em leis
supostamente divinas, seus pensamentos e expressão verbal positivos produzem
uma "força" supostamente divina que irá curar, proporcionar riqueza,
trazer sucesso e, de outras maneiras, influenciar o ambiente.
(ANKERBERG;WELDON, 1993, p.11)[5]
Finalizamos agradecendo ao Senhor Deus, porque mediante a
ação do Espírito Santo tem se tornado cada vez mais frequente o número de
pessoas que têm seus olhos e ouvidos abertos para a verdade da Palavra de Deus
e buscado correção para as suas distorções.
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