segunda-feira, 29 de junho de 2015

AS FESTAS JUNINAS E O NATAL


Uma rápida comparação entre a fogueira de São João e a árvore de Natal

Robson T. Fernandes

Quando falamos em festas populares, e em especial sobre aquelas que a Igreja cristã está diretamente relacionada, temos que ter sempre em mente que para todas as coisas o crente em Jesus Cristo deve alicerçar a sua vida nos princípios estabelecidos pela Sagrada Escritura. Por isso afirmamos que a Bíblia Sagrada é a regra de fé e prática para nossas vidas em todas as áreas. Daí o Sola Scriptura, lema da Reforma Protestante.

Após estabelecer este critério, algumas perguntas precisam ser feitas:

1º Qual a origem da festa?

2º Qual a origem e o significado dos símbolos utilizados na festa?

3º De que forma esta festa é utilizada para proclamar as verdades do Evangelho e glorificar a Cristo?

Tentando responder a essas perguntas, acreditamos que muitas questões serão solucionadas e diversos problemas poderão ser evitados. Vejamos, então:

1ª PERGUNTA
QUAL A ORIGEM DA FESTA?

Ao tentar responder essa pergunta, estamos buscando a origem da comemoração.

Se de cara nos depararmos com uma origem pagã, devemos, no mínimo, ficar mais alertas do que o normal, especialmente porque pessoas que não têm a Sagrada Escritura como princípio muito dificilmente estarão preocupadas em glorificar a Cristo com suas vidas e suas práticas, com suas festas. Por outro lado, devemos sempre entender que Deus também pode usar não convertidos para produzir boas coisas, a exemplo da Graça Comum.

Se a festa foi criada por cristãos, ou adaptada por cristãos para que Cristo seja anunciado e glorificado teremos um bom sinal, mas, ainda assim é preciso ficar alertas quanto àquilo que é proclamado.

Então, diante da doutrina da Graça Comum, devemos entender que nem tudo que descrentes fazem é ruim, assim como nem tudo que crentes fazem é bom. A nossa “vara de medir” deve ser a Sagrada Escritura.

2ª PERGUNTA
QUAL A ORIGEM E O SIGNIFICADO DOS SÍMBOLOS UTILIZADOS NA FESTA?

Não só a Igreja cristã, mas a humanidade em geral sempre foi, e é, muito simbólica.

Os símbolos não são por si só ruins, maus, mas expressam, tão simplesmente, as crenças e valores de uma pessoa ou de um grupo. Símbolos são utilizados para transmitir mensagens. Assim como a cruz é o símbolo do cristianismo, em determinado contexto, a mesma cruz, em outro contexto pode ser um símbolo que transmite outra mensagem. Portanto, é importante observar não só o símbolo, mas o contexto no qual ele está inserido e qual o seu significado naquele contexto.

A Igreja sempre foi rica em sua simbologia, utilizando cruzes, peixes, círculos, pães etc. em sua liturgia e em sua pregação visual, especialmente quando lidava com uma população iletrada, analfabeta, que necessitava de imagens para entender a mensagem, já que não tinha entendimento do significado das letras. O problema, no entanto, estava no fato de líderes e liderados se deixarem levar pelo perigo, tentação e distorção da idolatria a esses símbolos, reverenciando-os. Contudo, ainda assim continuamos um povo simbólico. Veja por exemplo as empresas, igrejas, escolas, nações e as bandeiras, sempre muito ricas em sua simbologia e sempre transmitindo uma mensagem através deles. Observe a matemática, física, química, as placas de trânsito, as forças armadas, os cursos militares, a internet, times de futebol, placas de segurança e orientação etc.

Nem sempre os símbolos têm um significado religioso, e nem sempre, quando o tem, são antibíblicos ou heréticos, como muitos pensam e afirmam. Precisamos lembrar que durante muitos anos, séculos, uma das formas mais eficientes de comunicação na Igreja foi a utilização de símbolos, e estes foram uma ferramenta eficaz na preservação da identidade e da mensagem da Igreja.

Essa prática se tornou comum e eficaz na preservação da mensagem e na preservação da mensagem bíblica. Por isso Ivan Bilheiro[1] diz que “a força de comunicação dos símbolos é inquestionável e adaptou-se muito bem à linguagem religiosa (ou esta adaptou-se muito bem à linguagem dos símbolos)”.

Dessa forma, foi uma prática bastante comum entre os cristãos primitivos a criação de símbolos que expressassem a mensagem do Evangelho. Fossem esses símbolos retirados de ilustrações bíblicas, criados a partir da imaginação ou adaptados de símbolos já existentes e utilizados por outros grupos e com outros significados.

Portanto, a questão, por si só, não é o símbolo em si, mas o seu significado dentro daquele contexto, além, é claro, da finalidade pela qual ele foi criado originalmente. Aqui nós temos, especificamente em nossa discussão, a questão que envolve o significado da fogueira de São João e da Árvore de Natal, por exemplo.

3ª PERGUNTA
DE QUE FORMA ESSA FESTA É UTILIZADA PARA PROCLAMAR AS VERDADES DO EVANGELHO E GLORIFICAR A CRISTO?

Essa terceira pergunta é uma consequência natural das duas primeiras perguntas feitas.

Uma festa, ou prática, é utilizada para proclamar as verdades do Evangelho e glorificar a Cristo se os elementos envolvidos nela conseguem transmitir com fidelidade a mensagem da Sagrada Escritura, o que inclui não só a sua mensagem falada ou escrita, mas também os seus símbolos envolvidos. Aqui, é importante andarmos com calma para não sobrecairmos no erro do docetismo de reprovar qualquer festa sob o pretexto de uma espiritualidade.

É normal pensar que todas as coisas existentes, para os povos mais antigos, algum dia já foram vistos como deuses ou instrumentos de manifestação divina. Com isso, precisamos esclarecer que se alguém desejar caminhar nessa trilha que envolve o paganismo e a mitologia, deverá fazê-lo com bastante cautela e atenção, para que não sobrecaia no erro do radicalismo, exagero e falta de atenção, que irá, inevitavelmente, conduzir à uma prática de vida bastante distante da realidade dos fatos.

Portanto, sendo específico em nossa proposta aqui, façamos uma rápida comparação entre as Festas Juninas e a Festa do Natal.

COMPARAÇÃO ENTRE AS FESTAS JUNINAS E O NATAL

NATAL
Após realizar uma extensa pesquisa em mais de trinta volumes que tratam de História Geral, Simbologia, Mitologia e Misticismo, não encontramos nada que justifique, por exemplo, a afirmação de que a árvore de natal tem origem pagã, como normalmente é dito no meio religioso. Autores como René Ménard, Edward Mcnall Burns, Georges Hacquard, Hesíodo, Junito de Souza Brandão, Albino Pereira Magno, os famosos A. S. Franchini e Carmen Alice Seganfredo e até o conceituado Joseph John Campbell, reconhecido mundialmente como uma das maiores autoridades do século XX em mitologia, não apresentam nada em seus textos que justifiquem afirmar que a árvore de natal, assim como a conhecemos hoje, fosse objeto de idolatria. Até mesmo porque na antiguidade, como Jesus ainda não havia se feito homem, não havia natal. O mais próximo que se encontra nesse sentido diz respeito a guirlanda, que é um adorno feito de ramos entrelaçados para pendurar nas portas durante o natal.

Talvez por isso, o príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon, ao falar sobre Martinho Lutero, afirmou: “Eu gosto de imaginá-lo com sua família próximo a uma árvore de Natal, compondo uma música, com o pequeno João Lutero em seu colo”[2].

FESTAS JUNINAS
Diferentemente do que vemos sobre a origem do Natal, as festas juninas não são, nem por natureza nem por essência, muito menos por origem, uma festa cristã, mas uma festa pagã de adoração a três imagens católicas: São João, São Pedro e Santo Antônio.

Os símbolos utilizados nas festas juninas são, tanto por origem quanto por prática, pagãos e idólatras. Por exemplo: 1) As fogueiras, de origem pagã, são acesas em homenagem aos três “santos”, idolatrados no catolicismo. Inclusive, cada fogueira deveria ser construída de uma forma específica: Para São João ela deve ser redonda, para São Pedro ela deve ser triangular e para Santo Antônio ela deve ser quadrada; 2) As bandeiras são postas como sinal de bênção e purificação destes “santos” sobre aqueles que participam da festa.


NATAL
Muito embora o assunto seja discutido, às vezes com fervor, é sabido que entre os séculos VII e VIII, o missionário saxão Winfried, conhecido como Bonifácio, o “apóstolo dos alemães”, dedicou-se a pregar para os anglo-saxões da Germânia, que realizavam o culto à Odin através da adoração ao “Carvalho Sagrado de Odin”, também conhecido como “Carvalho Sagrado de Thor”. Bonifácio cortou esta árvore, utilizada pelo paganismo para seus cultos, e utilizou a madeira para a construção de uma capela. Ainda, plantou um pinheiro, chamado-o de “Árvore do Paraíso”, que utilizou para anunciar, de forma visual, a mensagem de Adão, Eva e a árvore do conhecimento do bem o de mal, representando a Queda no Éden e a Salvação em Cristo. Muitos anglo-saxões se converteram à mensagem de Bonifácio e começaram a comemorar, junto com o natal, o dia de Adão e Eva.

A árvore utilizada para simbolizar essa festa era o pinheiro, ornamentado com maçãs, simbolizando o fruto proibido. Com o passar dos anos, a festa foi sendo incrementada e novos “elementos” foram introduzidos na árvore.

No século XV, em Livonia, Alemanha, começaram a usar as árvores na época do natal, nos prédios comerciais, quando, também, encenavam peças teatrais sobre Adão e Eva com uma árvore decorando o cenário, representando a árvore do bem e do mal, no dia 24 de dezembro. Com o tempo, os alemães passaram a utilizar um móvel de madeira, triangular com prateleiras, em que colocavam figuras e elementos referentes à época natalina. Daí surge o protótipo da atual árvore de natal, com a união dos dois – Árvore do Paraíso e Móvel do Natal. Mas, tradicionalmente, a cultura alemã atribui a Martinho Lutero, o reformador protestante, a construção da primeira árvore de natal moderna.

FESTAS JUNINAS
Diferentemente da história da comemoração do natal e da árvore de natal, que não foi criado nem proposto com a finalidade de anunciar a Cristo e nem de glorificar a Deus por meio dos princípios bíblicos, as festas juninas, comprovadamente, são de origem pagã.

No século VI o Vaticano instituiu o dia 24 de junho como data comemorativa do nascimento de São João, muito embora os pagãos já praticassem isso nessa mesma data e com objetivos religiosos também.

A fogueira de São João nasceu antes de são João. Quando o Vaticano instituiu, no século VI, o dia 24 de junho para a comemoração do nascimento daquele que batizou Cristo, os povos europeus já celebravam, com grandes fogueiras, a chegada do sol e do calor. Em 58 a.C., quando o imperador romano César conquistou a Gália (França), os bárbaros já comemoravam o solstício do verão, no dia 22 ou 23 de junho - o momento em que o Sol pára de afastar-se (solstício vem do latim e significa sol estático) e volta a incidir em cheio sobre o hemisfério norte. Os cultos pagãos eram rituais de abundância e fertilidade”, diz a professora Maria Montes, antropóloga da Universidade de São Paulo. Havia sacrifícios de animais e oferendas de cereais para afastar os demônios da esterilidade, das pestes agrícolas e da estiagem. O cristianismo, na verdade, apenas converteu uma tradição pagã em festa católica.[3]

Como disse a professora Maria Montes, antropóloga da USP, “O cristianismo, na verdade, apenas converteu uma tradição pagã em festa católica”. Tal pensamento é confirmado pelo próprio Bispo Dom Pedro José Conti, Bispo Diocesano de Macapá, quando, no site da Diocese afirma o seguinte:

O cristianismo apenas converteu uma tradição pagã em católica, quando o Vaticano instituiu, no século VI, o dia 24 de junho para a comemoração do nascimento daquele que batizou o Cristo. Em Portugal, as comemorações foram ampliadas no século XIII, incluindo o dia do nascimento de Santo Antônio de Pádua e o da morte de São Pedro.[4]

Então, vejamos uma diferença fundamental entre as festas juninas e o natal:

Tanto no caso das festas juninas quanto no caso do natal, já haviam festas pagãs nestas datas antes dos cristãos entrarem em cena. Porém, o ponto fundamental que faz toda a diferença é que, no caso das festas juninas, os ditos cristãos simplesmente substituíram uma festa pagã por outra, substituíram símbolos pagãos por outros. Eles deixaram de adorar as divindades pagãs da época para adorar as imagens de escultura da religião católica. No caso do Natal, quando também já havia uma adoração pagã na mesma época ao deus sol, os cristãos criaram uma comemoração na mesma data para adorar a Cristo, com outros símbolos, e outro objetivo. Em ambos os casos (Festas Juninas e Natal) as festas se tornaram populares e a adoração as divindades pagãs anteriores foram “esquecidas”, porém, enquanto que nas Festas Juninas a idolatria e o paganismo foram apenas readaptados e mantidos, no Natal o paganismo foi suplantado. Contudo, foi só uma questão de tempo para que uma nova forma de idolatria/paganismo surgisse e começasse a distorcer o verdadeiro sentido do Natal, com o surgimento da exploração comercial (Baal) e introdução de papai Noel, duendes, gnomos, fadas etc.

Portanto, a questão fundamental entre Festas Juninas e Natal é que não há como redimir as Festas Juninas porque a sua origem é pagã, seus símbolos são pagãos e sua proposta é pagã. Quem quiser fazer isso terá que criar outro tipo de festa, com outros símbolos e outro objetivo, assim como os cristãos fizeram na época da adoração ao deus sol com a criação do Natal. Então, as Festas Juninas são bastante diferentes do Natal, cuja origem é cristã e bíblica, cujos símbolos originais transmitem um significado bíblico e cujo objetivo é anunciar a glória de Cristo. Nesse sentido, o mesmo pode ser dito quanto a Páscoa, que foi distorcida no decorrer dos anos, com a introdução de coelhos, ovos de chocolate etc.






Se desejar saber mais sobre o assunto, leia os artigos:

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA ÁRVORE DE NATAL









[1] Idem. p.65.

[2] SPURGEON, C. H. Lutero: A Fé que Opera pelo Amor. 2012. Disponível em: . Acesso em: 16 abr 2013.

[3] Nhá-história do arraiá: a origem das festas juninas. Disponível em: http://super.abril.com.br/historia/nha-historia-do-arraia-a-origem-das-festas-juninas. Acesso em 24 jun 2015.

[4] Festa Junina. Disponível em: http://www.diocesedemacapa.com.br/conteudo/view/11. Acesso em: 24 jun 2015.





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