Uma
rápida comparação entre a fogueira de São João e a árvore de Natal
Robson T. Fernandes
Quando falamos em festas populares, e em especial sobre
aquelas que a Igreja cristã está diretamente relacionada, temos que ter sempre
em mente que para todas as coisas o crente em Jesus Cristo deve alicerçar a sua
vida nos princípios estabelecidos pela Sagrada Escritura. Por isso afirmamos
que a Bíblia Sagrada é a regra de fé e prática para nossas vidas em todas as
áreas. Daí o Sola Scriptura, lema da Reforma Protestante.
Após estabelecer este critério, algumas perguntas precisam
ser feitas:
1º Qual a origem da festa?
2º Qual a origem e o significado dos símbolos utilizados na
festa?
3º De que forma esta festa é utilizada para proclamar as
verdades do Evangelho e glorificar a Cristo?
Tentando responder a essas perguntas, acreditamos que muitas
questões serão solucionadas e diversos problemas poderão ser evitados. Vejamos,
então:
1ª
PERGUNTA
QUAL A ORIGEM DA FESTA?
Ao tentar responder essa pergunta, estamos buscando a origem
da comemoração.
Se de cara nos depararmos com uma origem pagã, devemos, no
mínimo, ficar mais alertas do que o normal, especialmente porque pessoas que
não têm a Sagrada Escritura como princípio muito dificilmente estarão
preocupadas em glorificar a Cristo com suas vidas e suas práticas, com suas
festas. Por outro lado, devemos sempre entender que Deus também pode usar não
convertidos para produzir boas coisas, a exemplo da Graça Comum.
Se a festa foi criada por cristãos, ou adaptada por cristãos
para que Cristo seja anunciado e glorificado teremos um bom sinal, mas, ainda
assim é preciso ficar alertas quanto àquilo que é proclamado.
Então, diante da doutrina da Graça Comum, devemos entender
que nem tudo que descrentes fazem é ruim, assim como nem tudo que crentes fazem
é bom. A nossa “vara de medir” deve ser a Sagrada Escritura.
2ª PERGUNTA
QUAL A ORIGEM E O SIGNIFICADO DOS SÍMBOLOS UTILIZADOS NA
FESTA?
Não só a Igreja cristã, mas a humanidade em geral sempre
foi, e é, muito simbólica.
Os símbolos não são por si só ruins, maus, mas expressam,
tão simplesmente, as crenças e valores de uma pessoa ou de um grupo. Símbolos
são utilizados para transmitir mensagens. Assim como a cruz é o símbolo do cristianismo,
em determinado contexto, a mesma cruz, em outro contexto pode ser um símbolo
que transmite outra mensagem. Portanto, é importante observar não só o símbolo,
mas o contexto no qual ele está inserido e qual o seu significado naquele
contexto.
A Igreja sempre foi rica em sua simbologia, utilizando
cruzes, peixes, círculos, pães etc. em sua liturgia e em sua pregação visual,
especialmente quando lidava com uma população iletrada, analfabeta, que necessitava
de imagens para entender a mensagem, já que não tinha entendimento do
significado das letras. O problema, no entanto, estava no fato de líderes e
liderados se deixarem levar pelo perigo, tentação e distorção da idolatria a
esses símbolos, reverenciando-os. Contudo, ainda assim continuamos um povo
simbólico. Veja por exemplo as empresas, igrejas, escolas, nações e as bandeiras,
sempre muito ricas em sua simbologia e sempre transmitindo uma mensagem através
deles. Observe a matemática, física, química, as placas de trânsito, as forças
armadas, os cursos militares, a internet, times de futebol, placas de segurança
e orientação etc.
Nem sempre os símbolos têm um significado religioso, e nem sempre,
quando o tem, são antibíblicos ou heréticos, como muitos pensam e afirmam. Precisamos
lembrar que durante muitos anos, séculos, uma das formas mais eficientes de
comunicação na Igreja foi a utilização de símbolos, e estes foram uma ferramenta
eficaz na preservação da identidade e da mensagem da Igreja.
Essa prática se tornou comum e eficaz na preservação da
mensagem e na preservação da mensagem bíblica. Por isso Ivan Bilheiro[1]
diz que “a força de comunicação dos símbolos é inquestionável e adaptou-se
muito bem à linguagem religiosa (ou esta adaptou-se muito bem à linguagem dos
símbolos)”.
Dessa forma, foi uma prática bastante comum entre os
cristãos primitivos a criação de símbolos que expressassem a mensagem do
Evangelho. Fossem esses símbolos retirados de ilustrações bíblicas, criados a
partir da imaginação ou adaptados de símbolos já existentes e utilizados por
outros grupos e com outros significados.
Portanto, a questão, por si só, não é o símbolo em si, mas o
seu significado dentro daquele contexto, além, é claro, da finalidade pela qual
ele foi criado originalmente. Aqui nós temos, especificamente em nossa
discussão, a questão que envolve o significado da fogueira de São João e da
Árvore de Natal, por exemplo.
3ª
PERGUNTA
DE QUE FORMA ESSA FESTA É UTILIZADA PARA PROCLAMAR AS
VERDADES DO EVANGELHO E GLORIFICAR A CRISTO?
Essa terceira pergunta é uma consequência natural das duas
primeiras perguntas feitas.
Uma festa, ou prática, é utilizada para proclamar as
verdades do Evangelho e glorificar a Cristo se os elementos envolvidos nela conseguem
transmitir com fidelidade a mensagem da Sagrada Escritura, o que inclui não só
a sua mensagem falada ou escrita, mas também os seus símbolos envolvidos. Aqui,
é importante andarmos com calma para não sobrecairmos no erro do docetismo de
reprovar qualquer festa sob o pretexto de uma espiritualidade.
É normal pensar que todas as coisas existentes, para os
povos mais antigos, algum dia já foram vistos como deuses ou instrumentos de
manifestação divina. Com isso, precisamos esclarecer que se alguém desejar
caminhar nessa trilha que envolve o paganismo e a mitologia, deverá fazê-lo com
bastante cautela e atenção, para que não sobrecaia no erro do radicalismo,
exagero e falta de atenção, que irá, inevitavelmente, conduzir à uma prática de
vida bastante distante da realidade dos fatos.
Portanto, sendo específico em nossa proposta aqui, façamos
uma rápida comparação entre as Festas Juninas e a Festa do Natal.
COMPARAÇÃO
ENTRE AS FESTAS JUNINAS E O NATAL
NATAL
Após realizar uma extensa pesquisa em mais de trinta volumes
que tratam de História Geral, Simbologia, Mitologia e Misticismo, não encontramos
nada que justifique, por exemplo, a afirmação de que a árvore de natal tem
origem pagã, como normalmente é dito no meio religioso. Autores como René
Ménard, Edward Mcnall Burns, Georges Hacquard, Hesíodo, Junito de Souza Brandão,
Albino Pereira Magno, os famosos A. S. Franchini e Carmen Alice Seganfredo e
até o conceituado Joseph John Campbell, reconhecido mundialmente como uma das maiores
autoridades do século XX em mitologia, não apresentam nada em seus textos que
justifiquem afirmar que a árvore de natal, assim como a conhecemos hoje, fosse
objeto de idolatria. Até mesmo porque na antiguidade, como Jesus ainda não havia
se feito homem, não havia natal. O mais próximo que se encontra nesse sentido
diz respeito a guirlanda, que é um adorno feito de ramos entrelaçados para
pendurar nas portas durante o natal.
Talvez por isso, o príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon,
ao falar sobre Martinho Lutero, afirmou: “Eu gosto de imaginá-lo com sua família
próximo a uma árvore de Natal, compondo uma música, com o pequeno João Lutero
em seu colo”[2].
FESTAS JUNINAS
Diferentemente do que vemos sobre a origem do Natal, as
festas juninas não são, nem por natureza nem por essência, muito menos por
origem, uma festa cristã, mas uma festa pagã de adoração a três imagens
católicas: São João, São Pedro e Santo Antônio.
Os símbolos utilizados nas festas juninas são, tanto por
origem quanto por prática, pagãos e idólatras. Por exemplo: 1) As fogueiras, de
origem pagã, são acesas em homenagem aos três “santos”, idolatrados no
catolicismo. Inclusive, cada fogueira deveria ser construída de uma forma
específica: Para São João ela deve ser redonda, para São Pedro ela deve ser
triangular e para Santo Antônio ela deve ser quadrada; 2) As
bandeiras são postas como sinal de bênção e purificação destes “santos” sobre aqueles
que participam da festa.
NATAL
Muito embora o assunto seja discutido, às vezes com fervor, é
sabido que entre os séculos VII e VIII, o missionário saxão Winfried, conhecido
como Bonifácio, o “apóstolo dos alemães”, dedicou-se a pregar para os
anglo-saxões da Germânia, que realizavam o culto à Odin através da adoração ao
“Carvalho Sagrado de Odin”, também conhecido como “Carvalho Sagrado de Thor”.
Bonifácio cortou esta árvore, utilizada pelo paganismo para seus cultos, e
utilizou a madeira para a construção de uma capela. Ainda, plantou um pinheiro,
chamado-o de “Árvore do Paraíso”, que utilizou para anunciar, de forma visual,
a mensagem de Adão, Eva e a árvore do conhecimento do bem o de mal,
representando a Queda no Éden e a Salvação em Cristo. Muitos anglo-saxões se
converteram à mensagem de Bonifácio e começaram a comemorar, junto com o natal,
o dia de Adão e Eva.
A árvore utilizada para simbolizar essa festa era o
pinheiro, ornamentado com maçãs, simbolizando o fruto proibido. Com o passar
dos anos, a festa foi sendo incrementada e novos “elementos” foram introduzidos
na árvore.
No século XV, em Livonia, Alemanha, começaram a usar as
árvores na época do natal, nos prédios comerciais, quando, também, encenavam
peças teatrais sobre Adão e Eva com uma árvore decorando o cenário,
representando a árvore do bem e do mal, no dia 24 de dezembro. Com o tempo, os
alemães passaram a utilizar um móvel de madeira, triangular com prateleiras, em
que colocavam figuras e elementos referentes à época natalina. Daí surge o
protótipo da atual árvore de natal, com a união dos dois – Árvore do Paraíso e
Móvel do Natal. Mas, tradicionalmente, a cultura alemã atribui a Martinho
Lutero, o reformador protestante, a construção da primeira árvore de natal
moderna.
FESTAS JUNINAS
Diferentemente da história da comemoração do natal e da
árvore de natal, que não foi criado nem proposto com a finalidade de anunciar a
Cristo e nem de glorificar a Deus por meio dos princípios bíblicos, as festas
juninas, comprovadamente, são de origem pagã.
No século VI o Vaticano instituiu o dia 24 de junho como
data comemorativa do nascimento de São João, muito embora os pagãos já praticassem
isso nessa mesma data e com objetivos religiosos também.
A
fogueira de São João nasceu antes de são João. Quando o Vaticano instituiu, no
século VI, o dia 24 de junho para a comemoração do nascimento daquele que
batizou Cristo, os povos europeus já celebravam, com grandes fogueiras, a
chegada do sol e do calor. Em 58 a.C., quando o imperador romano César
conquistou a Gália (França), os bárbaros já comemoravam o solstício do verão,
no dia 22 ou 23 de junho - o momento em que o Sol pára de afastar-se (solstício
vem do latim e significa sol estático) e volta a incidir em cheio sobre o hemisfério norte. Os cultos pagãos eram rituais de
abundância e fertilidade, diz a professora Maria Montes, antropóloga da
Universidade de São Paulo. Havia sacrifícios de animais e oferendas de cereais
para afastar os demônios da esterilidade,
das pestes agrícolas e da estiagem. O cristianismo, na verdade, apenas converteu
uma tradição pagã em festa católica.[3]
Como
disse a professora Maria Montes, antropóloga da USP, “O cristianismo, na
verdade, apenas converteu uma tradição pagã em festa católica”. Tal pensamento
é confirmado pelo próprio Bispo Dom Pedro José Conti, Bispo Diocesano de Macapá,
quando, no site da Diocese afirma o seguinte:
O cristianismo apenas converteu uma
tradição pagã em católica, quando o Vaticano instituiu, no século VI, o dia 24
de junho para a comemoração do nascimento daquele que batizou o Cristo. Em
Portugal, as comemorações foram ampliadas no século XIII, incluindo o dia do
nascimento de Santo Antônio de Pádua e o da morte de São Pedro.[4]
Então, vejamos
uma diferença fundamental entre as festas juninas e o natal:
Tanto no
caso das festas juninas quanto no caso do natal, já haviam festas pagãs nestas
datas antes dos cristãos entrarem em cena. Porém, o ponto fundamental que faz
toda a diferença é que, no caso das festas juninas, os ditos cristãos
simplesmente substituíram uma festa pagã por outra, substituíram símbolos
pagãos por outros. Eles deixaram de adorar as divindades pagãs da época para
adorar as imagens de escultura da religião católica. No
caso do Natal, quando também já havia uma adoração pagã na mesma época ao deus
sol, os cristãos criaram uma comemoração na mesma data para adorar a Cristo,
com outros símbolos, e outro objetivo. Em ambos os casos (Festas Juninas e
Natal) as festas se tornaram populares e a adoração as divindades pagãs
anteriores foram “esquecidas”, porém, enquanto que nas Festas Juninas a idolatria
e o paganismo foram apenas readaptados e mantidos, no Natal o paganismo foi
suplantado. Contudo, foi só uma questão de tempo para que uma nova forma de
idolatria/paganismo surgisse e começasse a distorcer o verdadeiro sentido do Natal,
com o surgimento da exploração comercial (Baal) e introdução de papai Noel,
duendes, gnomos, fadas etc.
Portanto, a questão fundamental entre Festas Juninas e Natal
é que não há como redimir as Festas Juninas porque a sua origem é pagã, seus
símbolos são pagãos e sua proposta é pagã. Quem quiser fazer isso terá que
criar outro tipo de festa, com outros símbolos e outro objetivo, assim como os cristãos
fizeram na época da adoração ao deus sol com a criação do Natal. Então, as
Festas Juninas são bastante diferentes do Natal, cuja origem é cristã e
bíblica, cujos símbolos originais transmitem um significado bíblico e cujo
objetivo é anunciar a glória de Cristo. Nesse sentido, o mesmo pode ser dito
quanto a Páscoa, que foi distorcida no decorrer dos anos, com a introdução de
coelhos, ovos de chocolate etc.
Se desejar saber mais sobre o assunto, leia os artigos:
A VERDADEIRA HISTÓRIA DA ÁRVORE DE NATAL
A FESTA DE “SÃO JOÃO” E A FESTA DA COLHEITA
A GRAÇA COMUM, DISCIPLINA ARCANA E SUA RELAÇÃO COM O NATAL
A GRAÇA COMUM, DISCIPLINA ARCANA E SUA RELAÇÃO COM O NATAL
[1]
Idem. p.65.
[2] SPURGEON,
C. H. Lutero: A Fé que Opera pelo Amor.
2012. Disponível em: .
Acesso em: 16
abr 2013.
[3]
Nhá-história do arraiá: a origem das
festas juninas. Disponível em:
http://super.abril.com.br/historia/nha-historia-do-arraia-a-origem-das-festas-juninas.
Acesso em 24 jun 2015.
[4]
Festa Junina. Disponível em:
http://www.diocesedemacapa.com.br/conteudo/view/11. Acesso em: 24 jun 2015.
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